A praça:um espaço público. Um espaço do público

por Abel Luiz (músico, compositor, da equipe de do Curso de Agentes Culturais Populares)


Quantas vezes, num universo despretensioso de expectativas, inúmeras pessoas fizeram ´´suas`` belas e doces recordações a partir de uma praça? Lembranças de amor, tristeza, revolta, indignação, infância, velhice, etc. E o que este espaço tem de tão transformador e impressionante capaz de produzir esse amálgama de vivências na vida de um ser humano? Estruturalmente, existem elementos que dizem fisicamente o que é e como é uma praça, facilmente visíveis quando esta é observada na sua paisagem com brinquedos como escorrega, gangorra e balanço, por exemplo; bancos; jardim; chafariz; bancos e mesas de pedra com tabuleiro de damas; árvores; coreto; terra batida; estátuas. Do ponto de vista humano, a praça conta com gente de todas as idades; mães; avós; camelôs; profissionais no intervalo do trabalho; desempregados; estudantes; videntes; artistas; negros, pardos e brancos; mendigos; pessoas bem de vida; pessoas com sorte ou sem sorte; namorados; enfim, todo o tipo de pessoas. E é justamente por toda essa diversidade humanística dentro de uma pequena porção de área da cidade que este espaço torna-se tão especial.

Estar na praça é irrecusavelmente estar com o outro, seja ele quem ou como for. É expor-se para uma série de experiências que valorizam e ressignificam o que é viver numa grande cidade. Algo que, historicamente, é comprovado, pois a praça já foi palco de grandes decisões políticas, religiosas, artísticas e dialéticas. Ela é viva em todos os continentes. È um fator universal de coalizão, coesão com o presente, é uma perspectiva de um futuro. É a praça que proporciona um sem-fim de experiências significativas através de instrumentos que, a primeira vista, parecem tão simples. Não se precisa ter dinheiro para se estar na praça. Para estar na praça é necessário somente que os indivíduos se respeitem entre si, assim como a si mesmos.
Espaços como este, apesar de não parecer, emanam grande poder. Possuem grande força de atração e repulsão. Quantas vezes, pessoalmente, ou através de grandes meios de comunicação de massa como a TV, o rádio, o jornal e a internet, as praças se fazem notar na grande mídia congregando uma quantidade enorme e diversa de pessoas nas mais diferentes situações ou causas. Daí a sua importância para o espaço público, assim como para o poder público. A praça, enquanto espaço catalisador de diversidades humanas, aponta para novas formas de se pensar a cidade, de ver-a-cidade. Ao mesmo tem em que, enquanto espaço político de segregação e particularização, denuncia para como a política pública atual aponta e demarca algumas práticas e praticantes locais, segmentando a participação de diferentes atores sociais.

A praça, portanto, enquanto espaço público, legitima, simbolicamente, o direito a cidade, o ser cidadão, a diferença, a experiência de e com a cidade, de dentro pra fora, com a participação de todos e em todos. A partir do momento em que a praça oculta um indivíduo, uma diferença, este perde seu poder expressão na sociedade, perde sensibilidade com outro, consigo e com o meio. Daí a importância de se fazer presente nas praças públicas como passo inicial à participação no espaço público. Um espaço que é de todos, para todos e que, portanto, tem de ser feito por todos.